terça-feira, 30 de novembro de 2010

Pata de Animal temperada com alvejante sabor abacaxi

1.



De volta pra minha maloca, primeiro mandei o Janda soltar o Sushi-Ninja – com algumas costelas quebradas, 9 dentes faltando e sem uma das orelhas, causaria uma bela impressão quando voltasse correndo pra mamãe, digo, pro Denis. Era o que merecia por ter me quebrado dois dentes de trás. Porra, como é que eu ia fazer pra comer carne de segunda agora? Isso era o mínimo que eu podia fazer em retribuição.

– Só isso, Jack? – perguntou Janda.

– Por enquanto.

– Não querendo me adiantar, mas será que tu não tem algum pra molhar o meu bico? Sacumé, né? Tenho a patroa, o leitinho das crianças...

Apenas precisei me agachar, pegando o torquês ensanguentado – que eu tinha usado no Sushi –, pra que ele entendesse o recado. Odiava esses viados que não sabiam esperar e ficavam me acelerando. Janda ia receber a parte dele antes do fim daquilo tudo, como a gente tinha combinado.

Fui até o quarto checar a Alicia.

Assim que abri a porta, a doida pulou em cima de mim, me acertando a cabeça com um quadro de quinta categoria. Nem tinha doído, mas fui obrigado a aplicar-lhe um sopapo mais ou menos forte. Caiu e ficou me observando com olhos de animal acuado. Só que ela não era animal acuado porra nenhuma...

– Posso saber por que isso? – perguntei, me livrando da moldura do quadro que tinha entalado no meu pescoço.

– Seu filho da puta, você me bateu! – e veio pra cima, com as unhas.

Deixei que ela me unhasse um pouco. Em seguida prendi seus braços e segurei até que ela parasse com aquilo. Por fim, falei:

– Terminou?

– Desgraçado!

– Olha, a idéia disso tudo foi tua. Não vem com merda pra cima de mim agora.

– Aquele animal me apagou com um mata leão! – fez escândalo, mostrando os dentinhos pontudos, se referindo ao Janda.

– Ele disse que tu tava dando showzinho. Tu não tava?

– Vocês são dois filhos da puta que batem em mulher! Depois que tudo isso acabar, quem sabe eu mesma não reúno uns capangas pra...

– O papai ia adorar descobrir que a linda filhinha é uma puta. Aliás, quem sabe ela não acaba virando uma – soltei, lambendo os beiços, fazendo cena, aquela coisa.

– Você não ousaria...

– Tu conhece o que de mim?... Só as historinhas que o teu papai te contou. Quero dizer, as que EU podia contar pra ele. Tá sacando?

Com essa, a princesinha calou a boca e foi entrando pra dentro do quarto, batendo a porta e tudo o mais, que nem a garotinha que tinha tomado leitinho desde criança e que tinha crescido e se tornado só mais uma puta sem coração que era capaz de passar rasteira no próprio pai; mais uma entre muitas.

Ah se o papai soubesse das tramóias de sua linda bonequinha de porcelana... Ah se ele soubesse que naquele cuzinho não havia mais pregas...

Alguns minutos depois, recebi a ligação de um Denis completamente transtornado e esbaforido confirmando o “pagamento”.

– Cê não fez nada com ela né, seu filho da puta?!

– Ainda não. Mas tô olhando pra ela agora e ela tá dormindo só de camisola, sem calcinha.

– Seu, seu...

Desliguei.

Avisei a Alicia e o Janda - que por sua vez, avisou a bunda.

Como era mesmo o nome da bunda?... Ah, Katieli...





2.



Katieli entrou pela porta da frente, eu, pela de trás, me livrando de um ou dois seguranças mais fora de forma do que eu mesmo. Janda ficou dentro do carro, parado mais ou menos longe, com a princesinha disfarçada de peruca e óculos escuros.

O combinado era eu ficar de prontidão, pra caso desse alguma merda. Só que Denis ainda tinha uma carta na manga, ou duas. Eu devia ter sacado que tinha sido fácil demais entrar. Quando ouvi o som dos tiros e corre-corre provenientes do bar, soube que Katieli – na verdade Paulão Metranca Nervosa – tinha começado o show sem mim. O disfarce tinha sido perfeito, claro, quem é que ia desconfiar duma bunda daquelas? Quem é que ia saber que uma bunda daquelas estaria carregando duas submetrancas por debaixo da saia? Quem é que desconfiaria dum disface daqueles? Até eu estava achando que o Paulão tinha realmente amolecido depois de tantos anos no jogo e virado a casaca. Isso até ouvir aquela doida, digo, doido, rindo que nem o capeta virado no capeta, sem tirar o dedo do gatilho por nenhum momento...

E aí eu soube que tinha dado merda. Porque nada podia dar certo? Não tinha tido uma noite de paz desde que tinha posto as mãos naquela maldita mala de cocaína. É só que agora era tarde demais pra amarelar e voltar pra casa chorando. Então eu engatilhei o meu revólver e me preparei pra entrar. Mas não é que senti o cano de uma quadrada contra a parte de trás do meu pescoço?

– Larga.

Era a voz do Sushi Caolho. O filho da puta simplesmente não sabia quando desistir. Larguei, e, num giro de corpo tomei-lhe a arma e apliquei uma joelhada naquelas costelas recém-partidas, partindo mais algumas e fazendo outras saltarem pra fora. Foi pro chão e eu chutei sua cara feia. Larguei-o ali; não ia se levantar tão cedo. Sua quadrada – com um dragão feito de pedras preciosas incrustadas no cabo de madrepérola – parecia bem melhor do que o meu velho Colt Anaconda. 44 Provável Morte Certa em Seis Tiros. Fiz a troca ali mesmo e entrei.

Metranca Nervosa berrava, sem dar folga no dedo no gatilho e com o vestido todo rasgado e um salto quebrado. Só faltava a faixa vermelha amarrada na cabeça pra ficar a cara do Rambo. Ao redor dele, cadáveres de capangas do Denis se avolumavam. Todos fora de forma que nem os dois que eu tinha abatido; o único que valia de algo ali provavelmente era o Sushi. Mas bem, por hora, esse tava fora da jogada; talvez pra sempre, talvez não. Gostaria que ele sobrevivesse pra eu que eu pudesse voltar a chutar aquele rabo mais uma vez. Só que não foi bem isso que aconteceu mais tarde... mas, continuemos...

No meio do zun zun zun das balas, procurei pelo Denis, mas ele não tava lá. Agachado, fui até onde deveria ficar sua sala particular, nos fundos. A porta tava trancada. Sem problema: meti duas balas no trinco e chutei. Vazia. Vasculhei o lugar todo e não encontrei a minha mala; apenas algumas raspas de cocaína em cima da mesa de vidro. Aquele puto andava cheirando do conteúdo da minha mercadoria.

Voltei correndo pro salão; o único som era o do tec tec tec da arma do Paulão – que estava de pé, com aquele sorriso insano no rosto, porém, mais furado do que queijo suíço. Todo mundo tinha morrido, nem a minha loira cheirada o cara tinha poupado. Nem aquela indiazinha gostosa que eu ia raptar depois se tudo tivesse dado certo. Saí pra fora.

O carro do Janda também não tava mais lá. Tentei telefonar pra ele e ninguém atendeu. Daí, levei algo que pareceu ser uma paulada, do lado da cabeça. No chão pude ver o rosto do Denis, antes de levar mais algumas e ficar tudo escuro. Isso vinha acontecendo muito, ultimamente. Eu tava precisando de umas férias.





3.



Nos filmes eles sempre mostram o herói da história sendo acordado – pelos seus algozes – com um balde de água fria na cara; sem camisa, sem sapatos, todo arrebentado, essas coisas. Sem camisa, sem sapatos e todo arrebentado eu tava, só que o balde era de água fervente. Pelo menos era melhor do que óleo ou ácido. A primeira coisa que eu vi foi a cara feia do Denis; a segunda foi o machado que ele tinha nas mãos. Olhei pro chão e esse estava recoberto com lona. Olhei em volta e encontrei a garrafa de alvejante, com “fragrância de abacaxi” ainda por cima. Havia também uma mesa cheia de “brinquedinhos”. Sabia o que me aguardava; tinha feito muito daquilo nos velhos tempos. Denis puxou um banco de metal e veio se sentar na minha frente, que nem nos filmes. Só que eu não consegui achar graça na hora.

– Bom, sabe qual era o meu apelido quando eu trabalhava nas ruas? – disse Denis, abrindo um corte com o machado no próprio dedo indicador, testando pra ver se estava afiado.

– Hum... Denise Engole Trabuco? – falei, com dificuldade pra abrir aquele mesmo olho que o Sushi-Ninja tinha arrebentado com um chute e que estava inchado novamente por causa daquelas pauladas que eu tinha levado.

– Haha, tenho que admitir que tu é um cara engraçado, pelo menos – e fez o machado descer em cima dos meus três dedos do pé esquerdo. – Me chamavam de Denis mesmo, nunca precisei de apelidinho pra meter medo em vago.

Segurei a vontade de gritar, mas não pude evitar que meus olhos lacrimejassem por causa da dor.

– Bom, isso é só o começo – disse, arrancando uma cutícula do dedo e cuspindo no chão, pra mostrar que aquilo pra ele era o mesmo que dar uma cagada antes de dormir. – Mas posso te adiantar que vou esticar isso até o máximo que eu puder... A não ser que você resolva cooperar comigo e me diga onde é que tá minha filha. Daí prometo deixar uma das tuas bolas intactas; você escolhe qual.

Não podia entregar a rapadura assim tão fácil; tinha que dificultar mais um pouco. Tinha uma fama a manter. Falei:

– Sabe, noite passada, quando eu fiz uma visitinha no quarto em que sua filha tava dormindo, achei que ia ter de pegar ela a força, mas que nada...

Vi uma veia pulsando na cara dele, que foi ficando cada vez mais vermelha enquanto eu relatava tudo que eu tinha feito com sua filha, ou melhor, o que ela tinha feito comigo. Num primeiro momento ele pareceu acreditar, mas depois, quando viu que eu tava sacaneando, ficou puto de verdade. Se levantou e foi até a garrafa de alvejante. Voltou, destampou o troço e jogou em cima do meu pé com três dedos faltando. Nisso, tive que gritar um pouquinho.

– Como eu disse, pretendo fazer isso bem devagar – falou, se levantando e pegando um martelo em cima da mesa.

Em seguida, Sushi-Ninja entrou pela porta. Com uma tipóia num dos braços e se apoiando numa bengala com o outro, parecia como uma tartaruga velha de oitocentos e cinquenta anos caminhando. Se aproximou da mesa e escolheu uma espada de samurai. Quando uma mosquinha passou em frente, cortou-a em dois pedaços. Tartarugas não faziam isso. Não fiquei muito feliz em descobrir.

Pra quebrar o gelo, falei:

– Tua orelha faltando até que combinou com o seu olho faltando. Agora eu tenho certeza: tu é o cara mais feio do mundo.

Eu esperava uma reação violenta – quis que se fodesse, que acabassem logo com aquilo –, mas o que “veio” me pegou de surpresa. Sushi colocou a espada de volta na mesa e tirou de dentro do bolso do terno umas fotos – sorria enquanto fazia isso, conseguindo ficar até mais feio do que antes. Quando me mostrou do que se tratava meu sangue gelou por completo: era a foto do cachorro da minha mãe, T-Bone, com a garganta cortada na frente da calçada da casa dela.

– Seu filho da puta, se você tocar nela juro que viajo até o Japão pra eliminar a tua árvore genealógica feiosa inteira!

– Hahahaha. Animal, tua velha até que tá boa das pernas – disse, o filho da puta. – Como é que dizem? – falou, se voltando pro Denis.

– “A galinha tá velha mas ainda dá um caldo” – respondeu, me olhando com maldade nos olhos. – Por enquanto ainda não fiquei com vontade de fazer nada. Pra te provar que eu tô falando a verdade, tá aqui a dentadura dela e aquele colar de pérolas falso – aliás, de muito mau gosto – que tu deve ter dado pra ela no aniversário de 150 anos.

Sushi riu largamente, sibilando entre aqueles dentes faltando que eu mesmo tinha arrancado naquela outra oportunidade.

Tudo certo, era a minha vez de provar um pouco do meu próprio veneno. Desviei o olhar dos pertences dela e tratei de me controlar. Recomecei:

– Tá legal. Vamos conversar.

Não que eu soubesse que diabos tinha acontecido. Disse que precisava de dois dias pra descobrir.

– Você tem um – Denis falou. – Se até meia noite do dia seguinte a minha filha não estiver aqui, largo o Caolho no cativeiro com a tua velha e depois te mando o que sobrar pelo correio.

Quando aquilo tudo terminasse eu pretendia dar praqueles dois uma morte extremamente dolorosa e lenta: machado, alvejante, lona e maçarico – pra ir cauterizando os lugares cortados, fazendo a coisa toda durar por pelo menos uns três dias.

Eles devolveram as minhas roupas e me soltaram. Não fiquei feliz em descobrir que eu tava no meio do nada. Havia um Uno Mille do lado de fora, com a chave na ignição. Queriam tirar onda com a minha cara MESMO...

Toda vez que eu trocava a embreagem, uma dor lancinante me cortava dali até o meio da minha mente. Alguém ia ter que pagar por isso.



Continua...

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Prato Frio Com Orelha de Porco

1.
Acordei com o puto do Jessé cantando irritantemente “voa, nas manhãs ensolaradas....Voa, no estalo do meu grito, quero ver teu infinito...”. Caralho, estalo era o som feito bigorna em meus ouvidos. Abri os olhos - somente o esquerdo, pois o direito se recusava – para ver se o diabo estava sorrindo para mim. Quando o mundo parou de girar e da noite fez-se luz, quem sorria para mim era o Janda. Fiquei me perguntando o que o Janda estaria fazendo no inferno. Será que recebeu a benção do Padre Amaro também?

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Vingança e outros pratos (1ª PARTE)

CAOLHO

Chovia pra cacete. Estacionei em frente ao “escritório” do chefe e entrei.
–– Coisinha linda, põe daquela tequila pra mim – falei pra garçonete, que circulava por lá só de calcinha fio dental e salto.
Notei uma garota nova no pedaço, meio indiazinha, com um rabinho delicioso. Assim que resolvesse a treta com o chefe Denis, ia grudar naquele rabo pelo resto da noite, pensei.

Fiz do meu jeito

Zona leste da cidade. o cheiro de esgoto subia pelas bocas de lobo e tomavam conta do boteco da esquina.
- Um pastel e um rocambole.
- E o que mais?
- Uma cerveja bem gelada.
O dia estava quente. Aquele puto ainda não havia dado às caras. Confiar em vago dá nisso. A vontade que eu tinha era de arrebentar seus ovos a chute.

O homem que conhece seu destino não tem medo de nada

O idiota tinha cara de bebezão da vovó. Branquelo, balofo, nariz de batata, cabelos brancos. Usava samba canção de pegadas de patinhas de cachorro. Batia com um rabanete na bunda da prostituta, quando entrei. Ah, faça-me...
–– Uau, parece divertido. Depois vai fazer o que com isso? Enfiar no teu próprio rabo? – eu disse pra ele, sem sacar o revólver.
–– Como você entrou aqui?? – perguntou, deixando o rabanete cair no chão e ficando mais branco ainda, com aquela expressão idiota na cara piorando.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Vai mais um pouco de Encrenca??


Parte 1




Uma semana havia se passado desde o episódio do tiroteio na estrada. Jack fumava um cigarro e bebia uma latinha de cerveja, imerso dentro da imunda banheira de seu apartamentinho cheio de pulgas no centro da cidade. Estava de licença do serviço (forçada)
 e, nesse meio tempo, pensava no que faria com a coca que tinha encontrado no porta-malas do carro do cara que não pôde ser identificado porque estava com a cara toda fodida de tiro. Um dos planos de Jack era passar a droga pra frente através de um intermediário; só que, detestava a idéia de ter que dar uma fatia do bolo na mão de um marginal.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Além dos Limites


Carlos estacionou o carro embaixo da ponte e desligou o motor, aumentou o volume do rádio e sem que Izaura esperasse, começou a beijá-la com volúpia. Suas mãos abusadas já bailavam dentro da blusa dela, procurando alcançar os seios. Num golpe rápido, deitou o banco do carro e com a agilidade de um felino passou para o banco do carona, espremendo o corpo esbelto de Izaura com o seu. Izaura correspondia mordiscando os lábios de Carlos, apertando suas nádegas com força. Sem perder tempo, começou a abrir sua calça, não queria esperar mais, pois já sentia o umedecer de sua vagina.
Os vidros embaçados e o som do rádio impediram o casal de perceber a aproximação silenciosa daquele Voyage preto, que parou atrás do carro de Carlos que foi surpreendido ao sentir que mãos o puxavam para fora do carro. A pancada na cabeça o fez desmaiar.

sábado, 31 de julho de 2010

Tempos de Violência parte II





Faltavam dez minutos para as duas da madrugada quando o celular de Anibal tocou:

- Fala chefe. Sim já estou com o pacote. Não, ainda não. Eu sei chefe, mas quase bati em dois viados chapados num cruzamento. É chefe, dois viados chapados, passaram o sinal vermelho num Voyage velho e preto, caindo os pedaços. Sorte dos putos que eu não podia parar, senão arrancava as bolas deles e enfiaria goela abaixo. Tá bom chefe, pode deixar comigo. Desligou o telefone e acendeu um cigarro. Ainda estava com aquele Voyage na cabeça. Quase que o serviço acabou em merda.

Conhecido nos guetos e ruelas como Jack Animal, ou Canibal, ou Jack o Temido. Policial com mais de vinte anos de rua e violento ao extremo, seus métodos de combater o crime não passavam pelos tribunais. Jack era um exterminador. Para ele a justiça só servia para acalmar os ânimos hipócritas da população e da mídia subversiva e capitalista.

- Tonhão! Abre o porta-malas e traz o viado pra cá.

domingo, 27 de junho de 2010

Tempos de Violência - Parte 1

 


Zeca Pele de Cobra e Alemão Cabeça de Martelo colocavam tudo que parecia ser de algum valor dentro de sacos de lixo pretos. Um homem aparentando uns 35 ou 36 anos, jazia no tapete da sala com um rombo sangrento do lado direito da cabeça, e uma mulher, mais ou menos dessa mesma idade, nas escadas, com várias e grossas veias saltadas na cara roxa, uma língua azul pra fora da boca e três ou quatro unhas quebradas. Na cozinha, uma garota de uns treze anos no máximo, amordaçada com silvertape e com os braços e pernas atados com corda grossa de barraca de acampamento, tinha um dos olhos roxos e chorava copiosamente.

Nova Fase

Aos seguidores e leitores deste espaço, inicia-se outra fase aqui no blog. Como somos três pessoas que juntas formam este personagem pitoresco chamado Dr Walzemhut, obviamente idéias novas surgem, bem como a mudança de membros. Contamos agora com outro integrante que veio agregar e muito em matéria de idéias.
Nossas próximas postagens, que esperamos ser do agrado de todos, serão mais pesadas. Portanto, advertimos os leitores que o que passarão a ler contém cenas fortes, chocantes mas que fazem parte da vida dos escritores. O que não significa que qualquer de nos concorde ou seja a favor da violência estampada nos textos, cujo conteúdo não é recomendado para menores, tanto que o conteúdo passa a ser extremamente voltado para o púlico ADULTO.

Agradecemos e esperamos que gostem dessa nova fase.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Mudanças

Em breve estaremos dando continuidade às insanidades do Dr Walzemhut, com novas estórias e novas aventuras e outras coisas doidas, com sangue novo chegando.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Destinos Cruzados II

foto by felipemaunn (www.panoramio.com/photo/8458575)
O primeiro disparo estilhaçou uma vitrine bem à minha frente. Pude sentir o zunido do projétil passando próximo da minha cabeça. Em seguida veio o segundo disparo e desta vez não me acertou por pouco. Por sorte tropecei naquele idiota paspalhão, o que fez com que meu corpo se desequilibrasse, no exato momento que o peito de um turista, que estava a uma metro e meio de meus olhos, foi perfurado pelo projétil.

- Merda cara! Sai da minha frente porra!
- Sai você da minha, não está vendo que estão atirando em mim?
- Em você o cacete, aquelas balas são para mim.
O terceiro disparo calou nossas bocas. Começamos a correr feito loucos pelos corredores da galeria. Não sei de onde o cretino de camisa floreada tirou a idéia de que aqueles três puxa sacos do governo queriam matá-lo, mas corria como o diabo da cruz. Que merda, não esperava que me descobrissem tão cedo. Hospedei-me perto da embaixada brasileira justamente para ficar de olho nos cretinos. Minha saída era me misturar aos turistas e sumir da vista daqueles putos. Chamar la policia seria a coisa mais estúpida a fazer naquele momento.

Saí correndo pela lateral da galeria e cheguei até a avenida Pan Americana e tomei rumo ao edifício Monalisa. Entrei na primeira loja de roupas. Por sorte consegui comprar a peruca loira do manequim. O Paraguay tem lá suas vantagens, só não vendem a mãe a preço de custo devido à tradição. Para meu espanto, o puto da camisa Hawaii entrou logo atrás de mim, e também trocou a roupa. Não sei de onde o filho da puta arrumou um aparador de cabelo. Logo que saiu do provador, usava corte zero nos cabelos, terno e gravata, um chapéu estilo Valdik Soriano e um legítimo rayban paraguaio. Não precisou me dizer, mas pelo desespero do safado, me convenceu de que aqueles três boiolas pistoleiros, realmente estavam à sua caça, por qual motivo não sei.
Não fiquei para trás no disfarce, tratei de me enfiar logo naquele vestido mais enfeitado que vestido de baiana no desfile de carnaval. pedi ajuda para a vendedora me fazer uma maquiagem rápida, com batom e tudo. Alguns colares no pescoço e muitas pulseiras penduradas nos braços. Um óculos escuro tamanho gigante adornava minha cara quando saí de mãos dadas com o estranho. Devo ter ficado parecido com a Carmem Miranda ou ridículo demais. O chato era aquela meia calça puxando os pêlos da minha bunda, que me forçava, a cada cinco passos, ficar ajeitando ela aqui e ali.

- Não ria, seu puto. Vá falando logo. O que você fez para aqueles homens atirarem em você?
- É uma longa história. E você? Por que está fugindo?
- É uma história longa.

Nos dispersamos na multidão. De longe consegui avistar os três patetas feito baratas tontas, olhando para todos os lados, tentando nos encontrar. Hasta la vista cabrones! Entramos num táxi e rumamos para o subúrbio. Como não estava disposto a ser confundido com uma corredera, tratei logo de comprar outras roupas.

Descemos do táxi já no alto da colina San Rafael, ao norte, de onde tínhamos uma visão privilegiada do rio Paraná. Entramos num boteco, pegamos umas garrafas de Pilsen Dorada e fomos nos sentar no alto da colina, remoendo os últimos acontecimentos.

- Rubens. Tim tim.
- Rui. Saúde.

Ficamos em silêncio, apreciando a cerveja gelada e a paisagem. Algumas aves faziam acrobacias no céu enquanto Martin pescadores davam rasantes nas águas do rio Paraná. Ao longe, o intenso movimento na ponte da amizade.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Machado,lona e alvejante...(VI)



Destino
 
Destino. Palavra cruel. Quando pensamos que nossa vida tomou um rumo definido, vem o maldito destino e nos passa uma rasteira, por vezes tão grande, que não conseguimos reunir forças para levantar. Pensei que iria ficar longos e eternos anos com Leila, foi paixão a primeira vista. Não me importava com o fato dela estar envolvida naquele assassinato na padaria, anos atrás, queria tê-la ao meu lado. O destino já tinha me esbofeteado antes, quando levou Camila, agora Leila. Mulher burra, idiota mesmo.
Quando fugimos de Santo Ângelo, estava realmente disposto a largar tudo, deixar de vez a polícia, morar em um lugar à beira mar. Mas a vadia tinha que ser loira. No meio do caminho, naquela noite, o pneu do carro furou. Parei no acostamento para trocar o pneu. Leila saiu do carro, não ouviu ou fez de conta que não ouviu quando disse para ficar no acostamento. A anta tinha que ver de perto como se trocava um pneu.
O caminhão não deixou muita coisa do seu corpo para que pudessem reconhecer. Foi instantâneo, sem freadas, sem gritos. Apenas aquele barulho de ossos sendo dilacerados. O caminhoneiro sequer parou, sequer desviou. Sumiu na noite tão rapidamente quanto surgiu. O mínimo que pude pensar foi que o filho da puta estava chapado de tanto rebite. Caralho, não pude dar uma mísera trepada com Leila. Ascendi um cigarro enquanto o puto do Elvis Costello tentava me torturar no rádio, com aquela voz dizendo “She, May be the face I can't forget. A trace of pleasure or regret. May be my treasure or the price I have to pay” Ela, pode ser o rosto que eu não consigo esquecer O caminho para o prazer ou para o desgosto. Pode ser meu tesouro ou o preço que eu tenho que pagar. Fodam-se, a Leila e o Elvis.
Olhei por instantes, de longe, aquela massa disforme sob a luz prateada do luar. Entrei no carro, desliguei o rádio e dei meia volta rumo à Santo Ângelo. Os planos haviam mudado. Meu telefone estava lotado de chamadas da Chefia. Não queria atender ninguém.
Apareci no QG três dias depois. Convenci a todos que havia sofrido um infarto, que estava hospitalizado e por isso não atendia ao telefone.
O chefe me chamou em seu gabinete. O que será que aquele baixinho enfadonho queria comigo?
- Senta aí. Como vai o coração?
- Tudo certo. Foi alarme falso. Na verdade, o médico me convenceu que era puro estresse.
- Tenho um trabalho especial para você. Algo que vai lhe render uma boa aposentadoria.
- Diga lá, chefe.
- Preciso de um braço direito, um homem de extrema confiança e com qualidades especiais.
- E que qualidades seriam estas, chefe?
- Suas qualidades.
Aquelas palavras me balançaram, por breves momentos. Como não havia mais nada além da minha própria vida para perder, topei fazer o serviço "sujo" para o Chefe de Polícia, meu chefe. Até o belo dia em que me chamou na sua casa, no meio da noite, para me passar mais um "serviço". Capturar o braço direito do maior traficante desde a queda do Fernandinho Beira Mar.
Butch. O balofo Butch. O inescrupuloso leitão do Butch. Sadam e Butch, dupla perfeita, o chefe do crime e o chefe da polícia, tomando uísque contrabandeado e fumando charutos paraguaios cubanos.
Logo que entrei dei de cara com aquela maleta preta ao lado da poltrona do meu chefe, que logo anunciou.
- É esse o homem que vai ter fazer feliz Butch.
- Quer uma bebida garoto? Sente-se. Aqui está a foto do cretino do Rui. O filho da puta está com algo que me pertence. Quero que me traga aquela maleta de volta e a cabeça do Rui. Pode ficar com o corpo. O dinheiro que ele levou não importa tanto. Quero a maleta, não esqueça. Cinqüenta por cento agora e quando voltar, o resto da grana que está ali é sua.
Não pensei duas vezes. Um cavalo encilhado não passa toda hora na sua frente. Descarreguei o revólver, três tiros para cada um.
Sinatra ainda cantava My Way quando deixei a casa e os cadáveres para trás.


Machado,lona e alvejante...(VII)
Última parada!

- Mãe, o moço da imobiliária está aqui.
O velho era tão míope que não notou que aquele enorme homem, com um improvável casaco de nylon azul em uma tarde de calor como aquela, um imundo pano de prato enrolado na mão, parado à sua porta, não era exatamente o estereótipo do corretor de imóveis.
Vaso ruim não quebra. A máxima de papai havia se concretizado. O velho depravado tinha razão. Quando Cale caiu como um saco de batatas a seu lado, apostou todas as fichas que também partiria para uma nada agradável viagem ao inferno, afinal tinha um buraco na lateral da barriga e só dois dedos inteiros na mão esquerda.
Após atirar em Cale, sabia que precisava sair dali. Procurar ajuda. Mas precisava estancar a hemorragia. Virou-se com dificuldade e com todas as limitações que a obesidade lhe impunha, notou que havia levado um tiro na transversal. A bala entrou, atravessou a espessa camada de gordura e saído na parte posterior, não atingindo nenhum órgão vital. Engatinhou até a gaveta do balcão da cozinha, arrancou-a espalhando inúmeras coisas pelo chão. Achou o que queria. Uma caixa de lenços umedecidos, álcool e cola Super Bond. Fez duas buchas e trincando os dentes, jogou o álcool, obstruiu os orificios causados pela bala. Em seguida, gastou toda a bisnaga da cola. Pronto. Lacrado. Ia ver no que daria. Oito comprimidos de analgésico e já estava em pé. Amarrou o pano de prato como um torniquete na mão ferida, pegou a arma de Cale e abriu uma fresta na porta para vislumbrar o corredor. Nada.
Estava tonto, a pressão havia baixado devido aos comprimidos. Cambaleando, saiu com a pistola em punho dentro do bolso do velho casaco.
A sorte parecia ajudar. Em frente, caminhões de bebida abasteciam o Gaúcho. Oktober. Bueno, dessa estava fora.
Desceu pela Bento Gonçalves e apertou a campainha da terceira casa.
- Vamos entrar, rapaz. O sol não está sendo amigo.
Caramba, tudo estava conspirando a favor. Imobiliária. Pois sim, seria o moço da imobiliária.
- Liguei para lá e me disseram que mandariam alguém mais a tardinha.
-Estava aqui perto e aproveitei.
-Ah! Sente-se ali. Mãe, traz um cafezinho.
A estreita poltrona praticamente o entalou e os pés de madeira rangiram ameaçadoramente.
-Bom, quero vender esta casa e comprar um apartamento, o pátio é muito grande e somos só eu,a patroa e uma neta..
- O senhor poderia me mostrar a escritura?-precisava ganhar tempo.
-Claro. Só um momento, vou buscar.
Putz. A cabeça estava confusa e não sabia o que fazer. Poderia fazer os velhos de reféns em caso de cerco. Mas a princípio, parecia que ninguém notou sua incursão ali. Então poderia pensar com mais calma.
Vovó trouxe o café e logo foi ajudar a achar a escritura. Menos mal. Visualizou uma chave de carro em cima de uma mesa. Amaldiçoou sua incompetência Nunca fora capaz de aprender a dirigir.
-Aqui está. Note que área construida é enorme, e bláblábláblá.
Era enervante. O casal de velhos começou uma explanação acerca da história, das dificuldades para construírem a casa. Olhou para o chão e notou um filete de sangue correndo no vinco entre as lajotas marrons. Droga, o ferimento estava vazando. Era questão de tempo para notarem. A campainha tocou. Era a polícia, subjetivou. A mão sobre o cabo da pistola, dentro do bolso suava muito. Olhou para o chão e viu um enorme gato persa cinza e com uma gravata borboleta de bolinhas amarelas a lamber com gosto o líquido escarlate. A sorte estava do seu lado, por mais incrível que parecesse. A conversa amigável do velho na sala era com alguém conhecido. Um vizinho talvez. Estavam a se dirigir até ali.
Levantou-se e buscou o banheiro. Era uma casa antiga, mas bem conservada. Ficava no fundo do corredor. As vozes foram ficando mais distantes. Se fosse a polícia, estava fodido. Nem reféns tinha mais. Olhou para a janela do banheiro. Nem pensar, era muito estreita. Porra, e agora? As tripas se retorciam dentro do enorme ventre. Precisava defecar. Sentou-se no vaso e começou a repensar toda a situação. Tinha realmente como escapar? Podia tirotear com a polícia, mas tinha pouca munição, além de ser burrrice. Não!De burro já havia a piranha da Leila. Estava cansado e a possibilidade de se entregar começava a ser simpática. Alguém bateu à porta. O velho perguntando se estava tudo bem. Claro, não podia estar melhor. Havia participado do assalto mais fracassado da história, foi baleado, se viu obrigado a matar o melhor amigo. Bom, era bom o velho a matraquear ali, sinal que não era a polícia. Ou seria blefe para desentocá-lo. Notou que o papel higiênico havia acabado. Apenas mais um detalhe. Teve vontade de rir. Lembrou da chave sobre a mesa. Iria viajar. Isso. Argentina. Como um tango dramático.
Ao abrir a porta já enfiou a pistola na cara do idoso, o cano da arma lançou o óculos fundo de garrafa ao chão, despedaçando-o.
- Quietinho, vovô. Quem estava aí?
O velho, muito pálido gaguejou:
- A vi-vizinha, disse que houve um assa-sinato no sobrado da esquina...
- Ela já foi?
- Si-sim...
-Olha só. Estou armado,sou perigoso e se andar na linha, o senhor,sua velha e o gato canibal não se machucam
- O que você quer?
- Vamos viajar.
-O quê?
- O senhor vai me levar até a Argentina, para qualquer efeito sou seu sobrinho.
-Meu De-us!
Levou o velho até a sala e anunciou a situação à velha, que parecia mais controlada.
-Peguem material de primeiros socorros. A senhora vai junto para refazer um curativo. E analgésicos também.
A operação durou dez minutos.
O velho falou.
-Sinto muito, não posso dirigir...
-Que porra está dizendo?
-Você quebrou meu óculos.
-Merda, merda! Que porra. Bem azar de vocês, já viveram muito mesmo...
A velha intercedeu radiante.
-Nada disso,filho. Eu dirijo.
Após, carregaram todo o material e quando chegou na garagem teve uma surpresa. Um flamejante Maverick V8, laranja e com o capô e o teto pretos. Inacreditável. Será que a velha seria capaz de conduzí-los até a Argentina. Teria que assaltar uns três postos de gasolina até chegar na fronteira, para saciar a sede do velho Ford.
Sentiu um forte cheiro de merda. Era dele mesmo. Entraram no veículo. A velha no volante, o míope no carona, o gato vampiro a se lamber olhando para o pano sujo atado na sua mão, ele no banco de trás, com a pistola em punho.
- Vamos vovó. Pé na tábua.
A primeira puxada do carro devia ter bebido uns três litros de combustível
Saíram da garagem. A velha manobrou a esquerda e roncando grosso o Mavericão entrou na Marquês, atraindo os olhares dos passantes.
Errou duas vezes as marchas e quando acertou, chapou o pé no acelerador fazendo a dianteira se erguer um pouco. O gato cravou as unhas no banco. A velocidade aumentava gradativamente.Olhou para trás.O velho sobrado e o Gaúcho ficavam rapidamente distantes. A velha manobrou novamente e entrou na Sete de Setembro, sem reduzir. Perdeu o controle, subiu a calçada em direção à porta envidraçada da Igreja que ocupava grande espaço na grade televisiva. Uma faixa pendurada acima da porta dizia "Entre e encontre a libertação!"