domingo, 27 de junho de 2010

Tempos de Violência - Parte 1

 


Zeca Pele de Cobra e Alemão Cabeça de Martelo colocavam tudo que parecia ser de algum valor dentro de sacos de lixo pretos. Um homem aparentando uns 35 ou 36 anos, jazia no tapete da sala com um rombo sangrento do lado direito da cabeça, e uma mulher, mais ou menos dessa mesma idade, nas escadas, com várias e grossas veias saltadas na cara roxa, uma língua azul pra fora da boca e três ou quatro unhas quebradas. Na cozinha, uma garota de uns treze anos no máximo, amordaçada com silvertape e com os braços e pernas atados com corda grossa de barraca de acampamento, tinha um dos olhos roxos e chorava copiosamente.


– Alemão, acho que já pegamos tudo que valia de alguma coisa aqui.

– É, já era. E aquela puta na cozinha? Ela viu a nossa cara. A gente vai ter que matar ela também.

– Claro que a gente vai ter que matar ela também, seu burro do caralho. Mas você acha que eu tive todo esse trabalho amordaçando e amarrando essa putinha durante quinze minutos só pra depois meter bala no meio daquela linda cabecinha e sair correndo??

– Não, acho que não... Não tô sacando, Zeca.

– Caralho, quero dizer que a gente vai se divertir um pouco antes de matar a puta!

– Ah! Porque não disse logo que era isso?

– Porque não achei que você fosse tão burro assim.

– Para de me chamar de burro, ô!

– Tá, tá bom. Você não é burro, só é distraído. Tá bom assim, doçura?

– Tá bom, tá bom...

– Legal. Agora para de falar merda e me ajuda com esses sacos; eles vão no banco de trás. A puta, a gente coloca no porta malas pra não chamar a atenção.

Levaram os sacos de lixo para fora tranquilamente, como profissionais. A garota deu um pouco de trabalho, Zeca resolveu o problema apagando ela com um murro no meio da testa. Arrancaram com o Voyage preto 86 e rodaram durante uns quarenta minutos. Pararam debaixo de uma ponte sobre o rio que cruzava perto da periferia da cidade. Não havia ninguém por perto, nenhum som. A noite estava mais escura do que nunca, fria e sem estrelas. Desceram.

– Zeca, você tem certeza cara? Não era melhor a gente deixar as coisas no apartamento primeiro, e depois voltar aqui com a puta?

– Não, porra! Isso só ia aumentar a nossa chance de ser pego com um carro cheio de coisas roubadas e uma garota de doze anos amordaçada no porta malas. Entende o que eu digo?

– É, acho que cê deve ter razão...

– Além do mais, Cabeça, eu não tô mais aguentando cara, viu a idade dessa putinha? Gosto assim cara, ela é virgem cara, tenho certeza... Vou arregaçar essa vagabunda!

– Beleza Zeca, mas vai logo. E vê se pega leve porque depois é a minha vez.

– Pegar leve uma porra! Vou arrebentar ela todinha! Fica de olho pra ver se nenhum cuzão aparece pra me atrapalhar.

Zeca Pele de Cobra foi até o porta malas e arrancou a garota de lá; estava pálida, apavorada, tinha os olhos vermelhos e inchados de tanto chorar, tinha os gritos de horror sufocados pelo silvertape colado na boca, se debatia loucamente. A cena só contribuía pra deixá-lo mais doido ainda. Deu três fortes bofetadas na cara dela e a jogou com violência em cima do capô do carro. Rasgou a calcinha rosa de coraçãozinho, puxando violentamente, e a penetrou com força, pra machucar. Mesmo amordaçada seus gritos poderiam ser ouvidos a certa distância. Porém, não havia ninguém e, mesmo que houvesse, não teria culhões pra se meter com aqueles tipos. A garota era virgem, como Zeca Pele de Cobra tinha pensado, sangrou, e muito. Se mijou toda. Ele gozou. Virou ela de bruços e começou a meter por trás, com mais violência do que antes; ele próprio sentindo a pele do pau prestes a rasgar. A garota sangrou novamente e defecou em seu pau. Quando ia gozar de novo, a fez ficar de joelhos puxando-a pelos cabelos, e esporrou em sua cara. Depois lhe deu um chute no meio da cara, jogou-a no chão de terra, rasgou a camisola com estampa de ursinho. Ia fazer mais uma viagem, só que quando foi pra cima, levou uma unhada na cara. Reagiu esmurrando a garota até dizer chega.

Alemão Cabeça de Martelo que estivera na ponte de olho no movimento voltou nesse momento.

– Puta que pariu!...

– He, He, He, me empolguei, cara. Essa puta me deixou doido. Tua vez. Vou fumar um cigarro e depois volto pra dar mais uma.

Alemão ficou ali parado, olhando para aquela garotinha magrela, coberta de hematomas, sangrando em cima duma poça de xixi e merda. A camisola de ursinho e a calcinha rasgada, ao lado do corpo desfalecido. A cara dela tinha se transformado praticamente numa massa de sangue onde se destacavam apenas os dois olhos azuis. Estava morta. Ele sentiu uma súbita tontura e um líquido quente e azedo subindo. Vomitou. Zeca se aproximou com o cigarro num dos cantos da boca e os dois polegares enfiados nos bolsos da frente, encarou Alemão com desdém.

– Algum problema Cabeça?

– Cara... O quê cê fez?

– Só dei pra essa puta o que ela merecia.

– Você matou ela!

– É? Foda-se. Não é a primeira piranha que eu mato e nem vai ser a última. Que foi, tá virando bicha depois de velho é?

– Não é isso Zeca, é que ela era apenas uma criança, cara, cê não precisava ter sido tão cruel...

– Cruel? Tá de sacanagem comigo, né? Que qui é? Puta que o pariu, a boneca vai chorar?

– Não cara, não vou chorar merda nenhuma! Tá me tirando? Apenas disse que você não precisava ter...

– Ai, CARALHO! Já ouvi, merda!

– Tudo bem, esquece.

– Esquecer? Você enche o saco, sabia?!

– Não tá mais aqui quem falou.

– Porra, que merda, depois dessa até perdi a vontade de foder!

– Ela tá morta, Zeca.

– Que se foda, morta ou viva, é tudo a mesma merda! Agora escuta, tu vai lá honrar esse trocinho que cê tem pendurado no meio das pernas ou a gente pode atirar a piranhazinha logo dentro do rio e dar o fora dessa merda de uma vez?

– Acho que não tâ a fim. Tô me sentindo meio mal...

– É, foi o que eu pensei. Então me ajuda aqui a arrastar essa puta até o rio pra gente dar o fora daqui.

Cada um pegou em um dos pés da garota e foram a arrastando até o rio. Ela boiou. Alemão Cabeça de Martelo disfarçou e virou pro lado, engolindo vomito quente e azedo pra Zeca não ver. Ambos desviaram o olhar ao passarem pela poça de sangue, xixi e merda que se formara no chão perto do capô do carro, onde a garotinha tinha sido estuprada e espancada até a morte. Os pedaços da camisola de ursinho rasgada voavam junto com o vento.

Entraram no carro. Zeca Pele de Cobra saiu cantando pneu e pisando mais do que o de costume. Alemão sintonizou na estação de música sertaneja, deixando o volume bem alto e fechando os olhos na tentativa de esquecer tudo aquilo que tinha acontecido. Zeca acendeu outro cigarro e cruzou todos os faróis vermelhos sem parar e nem olhar pros lados. Nenhum dos dois trocou nenhuma palavra durante o percurso de volta pra casa.


Continua...

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