sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Fiz do meu jeito

Zona leste da cidade. o cheiro de esgoto subia pelas bocas de lobo e tomavam conta do boteco da esquina.
- Um pastel e um rocambole.
- E o que mais?
- Uma cerveja bem gelada.
O dia estava quente. Aquele puto ainda não havia dado às caras. Confiar em vago dá nisso. A vontade que eu tinha era de arrebentar seus ovos a chute.
Não fosse a importância da maleta, já teria dado a benção do Padre Amaro. Mas uma hora esse puto cai em minhas mãos. Vingança. Palavra mágica para quem quer mover montanhas, ainda mais montanhas de banha besuntada com perfume fedorento e vagabundo, que mais parece incenso em casa de macumba do que perfume. Que espécie de homem usaria uma fedentina dessas diariamente?
Lá vem o puto.
- Fala chefia, tudo na santa paz?
- Vai ficar assim que te meter uma bala nos cornos. Tá atrasado por quê?
- Sabe como é, pintou uma mina e...
- Desembucha logo seu cuzão. Não to com saco para suas viadagens.
- Calma chefia. Seguinte. Tá ligado no lance de ontem, da loirosa casada com o gordalhão? Pois é, parece que o mandante é um tal de Denis. Um ex-chefe de polícia aposentado.
- Denis? E onde esse puto se esconde?
- O cara que fudeu o gordo ou o Denis?
- A tua mãe. De quem mais eu to falando? Tá cheirado? Se tá eu te desentupo as narinas lá na privada.
- Calma aeee. Carinha estressado. Tá com uma maloca de prima, só tem puta boa, coisa pra magnata e playboy. Fica na zona norte, perto do ginásio.
- Toma aí e some. E vai pela sombra pra não se queimar antes da hora.
Não resisti quando aquela bunda passou pela porta do bar. Olhei, descarada e demoradamente para aquele sobe e desce das ancas enfiadas numa suplex que estava enfiada naquela bunda. Quem queria estar enfiado ali era meu cacete. Mas não tinha tempo pra isso, nem para responder àquele sorriso safado que ela me deu. Vadia, sabe que pode e judia.
Já era tarde quando entrei na Coyotes Dancing Bar. Poderia chamar-se Putotes Dancing Bar pela quantidade de traveco. Não demorou e um puto veio se arreganhar para meu lado. Traveco é assim mesmo, por mais que disfarce dá pra sentir o cheiro a quilômetros.
- Sai fora neném, ainda não fiz exame da próstata.
- Ai querido!
- Querido a puta que te pariu. Cadê o dono?
- É da polícia?
- Não, é o comedor da tua mãe. Chama logo esse viado que tenho negócios. Diz praquele puto que é da parte do Jack. Ele vai saber. E manda aquela morena lá pra mesa cinco com uma cerveja. E nada de dosesinha, não to a fim de pagar chá.
Puta é puta. Basta um terno meia boca e elas já te tratam diferente. Mal deu tempo para a Pocahontas me bolinar o saco e Denis apareceu. O nervosismo estava estampado em sua cara inchada. O que o dinheiro faz com uma pessoa. Em menos de dois anos suava como um porco em vias de abate. O cheiro de incenso era inconfundível.
- Como vai Denis? Tá magrinho. Andou fazendo regime?
- Quem é você?
- Um velho amigo do Jack.
- Jack morreu faz tempo. E que eu saiba, seu único amigo morreu em seus braços.
- Vamos logo ao que interessa. Você tem vinte e quatro horas para me entregar uma mala de viagem recheada que você roubou. Já trocou o Corsa? Claro que trocou, tem o que agora?
- Você tem noção de onde está e com quem está falando?
- E você tem noção do significado de sósia? Denis. Ou você acha que eu ia botar meu cu na reta com o Marcão? Denis, Denis, sempre te falei para fazer exame completo nos defuntos. E não adianta olhar para aqueles bichas disfarçados de segurança. Teu papo é comigo, olho no olho.
Denis arregalou os olhos, incrédulo. Não poderia ser verdade. Ele mesmo viu Anibal, o Jack Animal, estirado no chão, duro feito bosta de cachorro ao sol.
- Vinte e quatro horas Denis. Nada mais, nada a menos. Amanhã passo aqui pegar o que é meu, quem sabe até coma um traveco pra dar lucro pra casa. Pena que o Tonhão se foi, ele ia adorar arrombar esses putos. E antes que me esqueça, lembra quando me pediu para apagar o puto que bolinava tua filhotinha? Ela cresceu bastante não é Denis? Vai ser uma foda e tanto. E não adianta ligar pra ela, o telefone está temporariamente fora da área de cobertura. Não esquece. Vinte e quatro horas.
Dei um tapa na bunda da Pocahontas e não paguei a cerveja, mandei pendurar na conta de Jack e fui tomando rumo da saída. Lá veio o traveco outra vez me apurrinhar.
- Já vai neném. Não quer que a mamãe te dê colinho não?
- Amanhã o neném volta para uma chupetinha.
Sentia que os olhos dos seguranças me flechavam, mesmo assim fui saindo, calmamente, como se nada tivesse acontecido. Esses putos pensam que só porque usam uma farda de dia são os caras à noite. Não passam de Manés.
Peguei o telefone e liguei para o dono do boteco em que estava e pedi para que conseguisse o telefone daquela bunda. Essa não me escapa. Se Tonho Boca Santa estivesse vivo para ver aquela bunda, largaria os viados e se converteria. É isso aí. Vinte e quatro horas para pegar o que é meu. Não levei chumbo de graça esses anos todos para no final, esse corrupto filho de uma puta do Denis levar a melhor.
Entrei no carro e segui para a zona leste, de volta ao boteco do Janda, Sinatra me acompanhou pelas avenidas desertas, Eu encarei tudo e continuei de pé. E fiz do meu jeito...

Continua...

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