sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Vingança e outros pratos (1ª PARTE)

CAOLHO

Chovia pra cacete. Estacionei em frente ao “escritório” do chefe e entrei.
–– Coisinha linda, põe daquela tequila pra mim – falei pra garçonete, que circulava por lá só de calcinha fio dental e salto.
Notei uma garota nova no pedaço, meio indiazinha, com um rabinho delicioso. Assim que resolvesse a treta com o chefe Denis, ia grudar naquele rabo pelo resto da noite, pensei.

–– Aqui está, lindinho – serviu-me, a garçonete.
–– Legal. Toma aqui um negócio procê comprar um sutiã pra combinar com isso daí – e enfiei-lhe uma nota de dez na parte da frente da calcinha, sentindo seus pentelhos aparados roçando nos meus dedos.
A safada sorriu e tomou seu caminho. A porta da sala do chefe se abriu:
–– Puta que pariu, Caolho, para de sacanear e entra logo aqui, porra!
O velho tava fodido da vida. Alguma coisa de grave tinha acontecido. Era difícil vê-lo daquele jeito; em trinta anos de polícia o cara tinha visto de tudo, não se abalava com nada. O bicho ia pegar.
Sentei, bebericando a tequila. Acendi um cigarro.
Chefe Denis estendeu duas carreiras em cima duma capa de cd e mandou, uma com cada narina. Nunca tinha o visto cheirar aquela porra; pelo menos não na minha frente.
–– Fodeu com o gordo?
–– Fodi.
–– Ótimo. Tenho um trampo pra você.
–– Tamo às ordens. Quem que eu tenho que apagar?
–– Se lembra do Jack Animal?
Só a menção daquele nome já me fazia ferver o sangue.
–– Como eu ia esquecer? Passei cinco anos na solitária por causa daquele filho da puta. Pena que não tive a oportunidade de estourar o rabo dele...
–– Pois é. Agora cê tem.
–– Chefe... não tô entendendo.
–– O desgraçado tá vivo.
Uma onda de calor percorreu o meu corpo. Sem querer, espatifei o copo de tequila com a mão. Nem liguei pra dor.
–– Eu vi com meus próprios olhos, ele esteve aqui – chefe disse, estendendo mais duas carreiras em cima da capa de cd e me passando. –– Não sei como aconteceu, mas ele não morreu durante aquela troca de tiros.
Meti o meu nariz naquilo, sem nota de dinheiro enrolada nem nada.
–– Ele tá com a minha filha – e subitamente seus olhos encheram-se de lágrimas.
–– Vai dar conta dela em menos de vinte e quatro horas... não posso nem imaginar o que está fazendo com ela uma hora dessas.
Não tava nem aí praquela putinha mimada. Queria mesmo era arrancar o couro daquele fela da puta, com ele vivo e tudo, berrando por misericórdia. Há anos que eu imaginava essa cena.
–– Como vai ser o lance? – falei, entre os dentes.
–– Ele disse que vai passar aqui amanhã pra pegar a maleta.
–– Aquela, daquela parada tua lá, antes de você virar a casaca?
–– Essa.
–– E cê tá com ela aí?
–– A maleta sim, mas o conteúdo...
–– Quer pregar uma peça no cara?
–– É o único jeito... Só que ele ta com a minha filha, Caolho.
Acendi outro cigarro enquanto pensava no que fazer. Que se fodesse aquela putinha mimada. Eu ia botar pra foder com o Animal...


JACK ANIMAL

Quando estava perto do boteco do Janda, me ocorreu que talvez estivesse sendo seguido. Joguei o repeat no som do Sinatra e fiz a volta, cantando pneu. Virei em várias quebradas, passei em vários faróis vermelhos. Não senti que tivesse pegando nada, mas mesmo assim, era melhor prevenir. Daí voltei pra frente do Janda e estacionei. Uma forte chuva começou a cair. Corri pra baixo do toldo.
–– Já de volta?
–– Ééééé.
–– Cerveja, rocambole, pastel?
–– Isso. Acho que vou querer uma caninha também.
–– É pra já.
–– Ô Janda...
–– Fala, patrão.
–– Enquanto tu frita esse pastel, acho que vou dar um pulinho lá em cima pra trocar essa camisa; o cecê tá foda.
Na verdade precisava subir pra checar como estavam as coisas por lá. Meu apartamento ficava do lado do boteco. O elevador tava quebrado de novo. Tive que subir três lances de escada, morrendo. No hall – que mais perecia corredor da morte de penitenciária chinesa –, tirei o revólver pra fora e fiquei esperto. Sem novidade. Girei a chave e entrei pra dentro. Fui até o meu quarto. Alicia, a filha do Denis, ainda tava amordaçada, com os braços e pernas amarrados. Dormia. Sorte dela que tinha herdado toda a beleza da mãe, por que se dependesse do pai...
Me aproximei cuidadosamente e acariciei-lhe os cabelos. Olhava pro seu peito, que subia e descia, numa respiração tranquila. Sem querer, acabei adormecendo.
Nem sei por quanto tempo dormi, mas quando acordei, foi com um chute bem dado nas costelas. Ainda estava escuro; ainda chovia. Ouvi uma voz áspera:
–– Levanta, filho da puta!
Já ia sacando o revólver...
–– Nem pensa nisso.
Puta merda, se não era o Caolho. Continuava feio que nem um cão chupando manga. Tive que comentar:
–– Quando o homem é muito feio, dizem que quando fica velho, melhora. No seu caso, nem a velhice...
–– Hahaha, como cê é engraçado – e me acertou um chute nos dentes que me fez ver estrelas. –– Doeu?
Com a boca cheia de sangue, achei que seria falta de educação responder. Ainda com a arma apontada pra mim, o feioso usou o outro pé pra levantar a camisola da filha do Denis. Não usava nada por baixo.
–– Fiu fiu... Como é Jack, já deu umas lambadas nessa piranha?
Cuspi o sangue da boca e respondi:
–– Não sou como você.
–– Hahahahaha... essa é boa! Um dos piores filhos da puta que já conheci na vida querendo dar uma de mocinho. Ah, pra cima de mim, Animal?
Nisso, Alicia acordou. Tomou um puta susto quando viu a cara do feioso - que se parecia com o Gollum do Senhor dos Anéis depois de um de porre homérico na noite anterior. Se encolheu toda a coitada, não tinha pra onde correr.
–– Saca só essa puta, Animal – Caolho disse, lambendo os beiços enegrecidos. –– Quando terminar com você, eu a princesinha vamos ter uma conversa, não é, princesa?
A garota se debatia inutilmente. Ele tava adorando aquilo. Dava pra ver seu pau nojento fazendo volume na calça do terno. Continuava apontando a arma pra mim, me olhando com o olho bom. Resolvi encher o saco dele pra ver se encontrava uma brecha.
–– Ei, Caolho. Como é, socou muita punhetinha lá na solitária?
Imediatamente ele ficou todo vermelho, parecendo se lembrar dos cinco anos em que tinha se fodido lá dentro, por minha causa. Continuei:
–– Mijavam muito no seu leite? Peidavam no seu arroz? Namorou bastante?... Aposto que sim.
Levei outro chute nos dentes. Perdi dois. O maxilar parecia que tinha saído do lugar. Bela brecha que eu tinha conseguido. Logo em seguida levei outro. Apaguei.

Continua...

3 comentários:

Sheilla Liz disse...

Delícia de blog, abs!

JL disse...

Véi, posta logo a parte 2 que to curioso agora, hehehe... Aguardando Parte 2...

O que vc acha de uma parceria heim??
xxxjaimexxx@gmail.com mada um email pra gente fexar parceria se quiser.

Sensibilidade a navegar com poesias disse...

Interessante seu Blog...
Gostei...